segunda-feira, janeiro 28, 2008

Wenn das liebe ist.

Confesso que fiquei surpreso com algumas reacoes a meu texto anterior. Creio ter sido visto como um sonhador. Um ser quixotesco. Alguém atrás de uma Dulcinéia, que me dizem ser Aldonza. Talvez. Mas não se trata de um objeto, mas de um espírito. Ou mesmo a vontade de um espírito, que não mais se encontra.


Atire a primeira pedra quem não pensou ser essa felicidade algo possível! É claro que, para os desastrados como eu isso evapora no primeiro sol quente que ilumina minha cabeça...mas tem estado nublado ultimamente. Mas sei onde viram minha insanidade.


Nesses tempos imediatos, cheio de já e agora, em que tudo o que a todos interessa é o prazer a todo custo, talvez não mais haja lugar para o amor. É bem provável que nem mesmo para a paixão.


Por mais ridículo que seja querer enveredar pelos caminhos de Camões, que definiu (se é que isto é possível) a essência de ambigüidade do amor, com seus fogos invisíveis e dores insensíveis, talvez a ousadia permita ao homem por trás deste texto palpitar sobre a maior característica da humanidade nos últimos duzentos ou trezentos anos.


Assim, pode-se falar que o amor, num sentido diverso do amor do mestre luzitano, num sentido mais “senil” seja, acima de tudo, identidade. Um ver-se no outro de nós mesmos. Uma decorrência do processo que começa com a possibilidade de vir a ser, e não termina. Torna-se um dia, uma bela constatação, uma sintonia. Um reconhecimento de si em outro.


Num mundo em que não sabemos nem queremos saber o amanha e onde o que importa é o agora, como pode haver lugar para dois sentimentos que são, como todos os sentimentos que se preze, conseqüência de um processo?


Viveremos de hoje em diante num mundo sem amor. Só euforia e escravidão barata. Vamos jogar esta besteira de amor no lixo e comprar uma Ferrari à prestação. Aí não precisaremos da Hustler, né?!


Vivam assim, se quiserem... Eu vou ver a cerimônia do acasalamento das abelhas da Papua Nova Guiné no Discovery Channel... Elas sabem viver...

terça-feira, janeiro 22, 2008

Compartilhamentos...

Se você aceita um conselho, te diria para andar sem pressa. Diria para olhar a paisagem, que não reclama de ser vista, quase nunca sendo enxergada;

Se você aceita um conselho, diria para pensar nos amigos, nessas pessoas que por alguma conexão cósmica caminham ao teu lado, ainda que por pouco tempo, nessa estrada que chamam de vida;

Se você aceita um conselho, peça aos que gosta para perceberem como ficar ao lado de certas pessoas, sem falar nada, é muitas vezes a maior comunicação que nesta vida podem ter;

Se você aceita um conselho, avise a todos que há um mundo dentro de cada cabeça, que quando apreciada pelo próprio dono, se torna o maior parque de diversões do universo;

Mas não sei se conselhos são válidos. Não sei se você quer fazer tudo à minha maneira, o que faz destes conselhos, uma intromissão violenta;

Mas não deixo de falar

Pois se você aceita conselhos, desejaria a todos que desejassem pouco, nada além de um trabalho onde coisas se realizassem, onde pudéssemos chacoalhar mentes, pois disto o mundo precisa e sempre precisará;

E nestes conselhos, eu diria para que você desejasse saúde, afinal, ainda que efêmera, é uma causa dessa beleza inerente aos que amam a existência;

e diria pra que você quisesse ao teu lado uma mulher, de quem tenha orgulho todos os dias, seja pela beleza, seja pela inteligência, e que a olhe todas as manhãs e repita pra si: “ela me escolheu...”. Deseje alguém de cuja vida tenha vontade de ser testemunha;

E ainda que você me pedisse pra parar, se você quisesse um conselho, eu te diria pra buscar alguém com quem pudesses ficar horas conversando e imaginando a melhor forma de educar os filhos, qual papinha comprar, e até se o rebento poderia ler “O Soldadinho de chumbo” pela violência implícita;

E eu te imploraria pra que você ouvisse meus conselhos, pra que desejasse não muito dinheiro, apenas o suficiente para teu conforto, para que pudesse ver o mundo e ser testemunha desta maravilha chamada Terra, mas que não se perdesse na ridícula tentação da ostentação vazia;

E eu te diria, pra que você usasse sua renda para, ao lado de tua companhia, comer comidas que ainda não comeram, beber bebidas que não beberam, e que juntos pudessem dividir os sabores do mundo;

e em meus conselhos, falaria pra que você tivesse ao teu lado alguém que gostasse de dançar, de dançar junto, de dupla, e de dançar todos os ritmos de todas as músicas,

e te diria pra que ouvisse samba, mas não se esquecesse de Frank Sinatra

Eu te diria que tivesse um filho, pra que você possa ver o mistério da existência brotando em sua frente, e te tirando de seu próprio pedestal, pra que assim, você visse a mágica da vida se abrindo para o mundo, na mais incrível explicação da palavra encantamento;

E eu te avisaria que, de tudo aquilo que se pode buscar na vida, a mais nobre é a eterna luta pela lucidez, que lhe permite discernir o que traz dor ou alegria às pessoas, e então poder escolher teu caminho;

Eu pediria pra que se você pedir dinheiro, peça a riqueza na alma dos seus amigos, de sua mulher, de seus filhos;

Não queira muito. Jamais queira além da conta. Felicidade pode ser este equilíbrio que faz com que tudo esteja por perto, mas que nada jamais perca o sentido.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Verdade: Objeto ou Significado???

Não é de hoje que a humanidade, em suas mais diversas formas de agrupamentos sociais, tem tido, em maior ou menor escala, um contato interessante com a questão da “verdade”. De fato, durante um enorme período de nossa história a “verdade” foi um atributo das coisas, o qual era conferido pela religião, por aquilo que era Sagrado. Questões sobre a posição do planeta no espaço, sobre a natureza divina do homem, sobre a imortalidade da alma, muito antes de poderem ter sido analisadas pela ciências, foram objeto de análises teológicas nos discursos de inúmeras religiões ao redor do globo, em diversos momentos históricos. Todas essas análises da “verdade”, às quais poderíamos denominar “verdades reveladas” sempre tiveram um papel fundamental no surgimento e no ocaso das mais diversas civilizações. A existência de um discurso religioso conciso e legítimo que explique o mundo e analise a realidade tem uma conexão inevitável com a interpretação da verdade nos mais diversos momentos da história.

Feita essa breve digressão é preciso que se pontue o momento em que algumas questões se entrelaçam. São elas, por excelência, a conexão entre a Religião, a Ciência, a Verdade, o “Método” Cartesiano e, em partes, a filosofia de Kant. Todos esses aspectos se interconectam para poder fazer com que compreendamos o caminho que trouxe a porção ocidental da humanidade da Idade Média em direção ao Iluminismo, o qual possibilitou que criássemos o mundo que hoje conhecemos.

Como afirmado outras vezes, pode-se dizer que a compreensão total da “verdade” é algo que somente é possível num ambiente religioso. Não quero dizer com isso que a ciência é menos apta a explicar o mundo do que a religião. Sustento, ao contrário, que somente quando se aceita a existência de uma “verdade” a ser revelada, se pode compreender tal “verdade” como sendo total em si mesma. O homem comum, desconectado de uma visão religiosa que lhe permita acreditar que detém a realidade do mundo, sempre estará obrigado a duvidar de seus cinco sentidos. Em outras palavras, nossos sentidos (visão, olfato, audição, tato e paladar) nos enganam. Esse “engano ontológico” impede que tenhamos uma apreensão total da realidade. Somente somos capazes de perceber “fatias” da verdade. Tais enganos dos sentidos foram muito bem analisados por René Descartes em seu celebre livro de 1647 “Discurso do Método”[1]. Um outro aspecto da dificuldade da apreensão da realidade tal como é pelos seres humanos se encontra na convergência de nosso olhar. O ser humano ao olhar um cubo, jamais conseguirá ver, ao mesmo tempo e diretamente (sem o auxílio de espelhos) a totalidade do cubo, e mesmo com espelhos, nosso foco de visão sempre estará direcionado a um dos seis lados[2]. Tais “impossibilidades congênitas” da humanidade em sua relação com a verdade total, sempre fazem com que, de tempos em tempos, o discurso religioso (muitas vezes fundamentalista) volte à tona.

Num outro aspecto, há que se fazer uma distinção entre a “verdade” que se pretende analisar neste texto, e a verdade vulgar, aquela que cotidianamente contrapomos à mentira. Aqui não se faz uma menção direta à verdade/mentira. Esta verdade vulgar tem seu campo de análise reduzido à mente humana. Neste sentido, podemos dizer que é verdade aquilo que um ser humano afirma quando seu discurso está de acordo com o que se passa em sua cabeça, ou seja, quando discurso for de acordo com a percepção dos sentidos.

Esse jogo de vai-e-vem entre a “Verdade Revelada” e a Realidade Absorvida pelos sentidos (empírica) faz com que a humanidade, mormente em sua porção ocidental, acabe por construir sistemas lógicos muito interessantes quando o objetivo é a análise de determinado fato ocorrido no passado. É o que Michel Foucault chamou de “jogos de verdades”[3]. A tese de Foucault se sustenta alegando que, como é impossível saber a realidade sobre determinado ato de outrem ou fato ocorrido no passado, o que resta ao inquisidor é a possibilidade de, recolhendo depoimento de pessoas que foram testemunhas de partes de atos e/ou fatos conexos com o objeto de dúvida, reconstruir de maneira verossímil os passos anteriores ou imediatamente posteriores ao fato para, assim, buscar convencer o inquisidor de que tal fato realmente ocorreu[4]. No mesmo sentido, e através da mesma mecânica, busca-se descobrir a verdade dos pensamentos do agente observado. Observe-se: Foucault coloca em xeque com uma única jogada dois pilares de nossa modernidade. Por um lado ele deixa claro que o homem jamais será capaz de saber como algo que ocorreu no passado de fato ocorreu, assim como jamais será capaz de saber como alguém está pensando, pois o observados dos fatos está preso a limites temporais (passado) bem como à sua impossibilidade Kantiana de observar o todo. Por outro lado ele fala não em descoberta da realidade, mas em um “jogo de verdade” cujo único objetivo é o convencimento. O que se busca é convencer que fulano cometeu tal crime, ou que tal fato ocorreu. Afinal, a verdade propriamente dita, está, ou no passado, ou na cabeça de alguém, e nada pode retirá-la de lá.

Talvez Foucault não saiba, mas com esse seu lance, tenha talvez reconciliado a visão religiosa da verdade e a análise cartesiana e científica (empírica até) da busca da realidade. Obviamente ele não diz que devemos aceitar uma verdade revelada por um Sacerdote de qualquer confissão religiosa que seja. Contudo, também não diz que nos é possível uma apreensão total da realidade por nossas próprias impossibilidade biológicas. Foucault, buscando analisar a conexão entre tais opostos, num exercício de eureka fascinante, demonstra que a apreensão da realidade não reside na simples observação do objeto, como seria de se esperar da ciência, nem tampouco no discurso livre, mas moralmente aceitável, de um pároco qualquer. Foucault, talvez sem querer, nos dá a resposta de que a análise da realidade é um exercício simbiótico entre o objeto e seu significado, ou seja, entre a explicação científica e a moral ou religiosa e, até mesmo, ética.

Tal visão talvez seja a grande saída para alguns dos grandes impasses da pós-modernidade. Afinal, sabemos hoje que não temos como descobrir a verdade. Mas também não queremos ser ludibriados por novas religiões que provam um crime através de ordálias[5]. A idéia de Foucault faz com que se vislumbre um momento no futuro da humanidade em que talvez, conscientes da impossibilidade de descobrirmos a existência de algo no passado e na mente de alguém, os contendores em um litígio judicial possam jogar uma partida de futebol, ou se desafiarem num duelo de dança para ver ao lado de quem estava a verdade.



[1] Nesta obra o autor ensina, em suma, uma única arte: a da dúvida como sendo a grande ferramenta para o bom raciocínio. Esta obra, além de enfurecer a Igreja e quase custar a cabeça de Descartes, deu início ao método científico, lançando as bases da ciência moderna, a qual até hoje, com poucas variações práticas, é toda baseada na tentativa e erro, e na dúvida persistente até o alcance de um resultado.

[2] Esta característica da impossibilidade de uma visao total por parte do ser humano foi analisada por Kant em sua obra “Crítica da Razão Pura” de 1781.

[3] Michel Foucault - (Poitiers, 15 de outubro de 1926Paris, 26 de junho de 1984) foi um filósofo e professor da cátedra de História dos Sistemas de Pensamento no Collège de France desde 1970 a 1984.

[4] “A verdade e as formas jurídicas” Michel Foucalt.

[5] A ordália consistia em que, na divergência de testemunhos, remetia-se a verdade para o juízo de Deus, ou seja, Deus não podia beneficiar o culpado contra o inocente. Em Portugal, os ordálios utilizados foram de dois tipos: o ferro em brasa e o duelo judicial. No primeiro caso, o juiz e um sacerdote aqueciam o ferro, que o acusado era obrigado a segurar. O juiz cobria-lhe a mão com cera, punha-lhe por cima linho ou estopa e enfaixava tudo com um pano. Decorridos três dias, o estado da mão era analisado e se houvesse chaga o réu era considerado culpado e imediatamente condenado. O duelo judicial a cavalo ou a pé, segundo a classe social dos intervenientes, durava três dias. Após esses dias, o vencido perdia o processo, se não houvesse vencido, perdia quem tinha pedido o desafio.

domingo, janeiro 06, 2008

O quê, como e por quê?!?!

Todos já ouviram falar, pelo menos uma vez, que Galileu Galilei foi condenado por provar por A mais B que o planeta Terra não era o centro do Universo e que, na verdade, apenas girava ao redor do sol. Qualquer pessoa com um grau mínimo de instrução acaba, cedo ou tarde, a lançar pesadas críticas à Igreja Católica de Roma, acusando-a de ter perseguido e matado inúmeros pensadores apenas por que estes divulgavam suas idéias e pesquisas, as quais contrariavam dogmas da Igreja e contradiziam a interpretação teológica das Escrituras Sagradas do cristianismo. Muitos já bradaram aos quatro ventos que a “Santa Igreja de Roma” teria sido muito, mas muito mais sanguinária do que os regimes alemão e soviéticos juntos, e que o holocausto seria fichinha perto da voracidade insaciável dos representantes do Papa durante o fim da Idade Média. Mas, afinal, o que isso significa? Qual o contexto histórico que levou a Igreja Católica Apostólica Romana a ser a maior religião institucionalizada do mundo ( a única com um país só seu) e, ao mesmo tempo, ser acusada de ser a maior assassina da história da humanidade? A questão, a contrário do que muitos pensam, chega a ser simples quando analisada através de um enfoque mais direto e menos religioso ou fanático. Em síntese, tudo não passou de uma grande luta pelo encargo de dizer “o que é o quê, como é e porque é”.

É evidente que a frase acima não tem o mérito de ser tão clara quanto se poderia esperar. Contudo, a idéia de uma luta pela prerrogativa de dizer o que é, como é e por que é pode e deve ser vista como o foco central das lutas que foram travadas entre os religiosos e os céticos em toda a história da humanidade e não apenas no ocidente. Afinal o objetivo maior de todas as religiões é a criação de uma explicação de mundo que esteja de acordo com os objetivos do grupo que comanda a estrutura religiosa. Essa regra vale para Judeus, Cristãos e Muçulmanos, bem como para todas as filosofias originárias de ordens morais reveladas. Não se pode jamais dissociar o elemento religiosos do elemento social. A atual separação entre a religião e outras formas de poder que podemos observar no ocidente é relativamente nova. Para muitos de nós (ocidentais, modernos e filhos da cultura pop) imaginar uma pessoa que mata ou morre em nome de um Deus é um absurdo desmesurado. Entretanto, esquecemos que essa é a regra da humanidade e que nossa invenção de liberdade religiosa é a exceção. Até trezentos anos atrás ainda se podia ver resquícios das perseguições religiosas nos países colonizados pela Espanha, até mesmo na América colônia.

Existe um padrão a ser considerado quando se fala em Sistemas Religiosos e a explicação de mundo daí decorrente. A legitimação da Religião se dá em duas frentes. Em primeiro lugar existe um processo de sacralização do povo e da terra (nós somos especiais e nossa terra é sagrada e foi abençoada por nosso Deus ou Deuses). Logo em seguida há um processo contínuo explicação do mundo (por exemplo: o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, por isso está numa posição superior perante os demais animais. Não por outro motivo, como o homem é o ser divino por excelência, a terra deve ser o centro do universo, afinal o universo foi feito por Deus para os homens). Os dois métodos – sacralização e explicação – são contínuos e não tendem a parar até que encontrem uma força que tenha maior legitimação para explicar a realidade, ou força suficiente para destruir todo o séquito religioso.[1]

Quando se tem por objeto de análise a história da Igreja Católica Apostólica Romana de fins de idade média podemos encontrar uma afronta conjuntural aos dois tipos de sistemas. Em primeiro lugar a luta entre o objetivo de sacralização e o desconhecido (nós Sagrados X eles Profanos). Afinal, naquela mesma época tinha início a retomada das rotas comerciais após quase mil anos de um fechamento (idade média) que teve um papel importantíssimo na construção da identidade européia e cristã. Neste momento o europeus passam a ter contato com povos diferentes, mercadores de várias regiões do mundo e se deparavam com uma afronta à idéia de que todos os diferentes são infiéis e que, se não forem convertidos, devem morrer. Por outro lado, o sistema da explicação religiosa do mundo entra em crise e seu grande algoz tem nome e sobrenome: a ciência moderna.

Fica clara a encruzilhada da fé cristã nos séculos XIII, XIV, XV e XVI. Se no início do segundo milênio as Cruzadas organizadas pela igreja de Roma tiveram como objetivo sacralizar os bárbaros pela espada e atingir a Terra Santa (o que reforçou a unidade européia e recriou as rotas comerciais), no período de quatrocentos anos que vai de 1201 a 1600 a Igreja vai bater de frente com um inimigo ainda mais letal e que brota em seu seio. A ciência trazia uma nova explicação de mundo que desafiava a explicação da vontade divina para as coisas. É a ciência que, pouco a pouco, passa a poder dizer “o que é o quê, como é e por quê é”. Não é pouca coisa que a Igreja estava prestes a perder. Afinal, o que seria de uma Igreja que não sacraliza o próprio espaço, nem explica o mundo? O que lhe resta?

Foram necessários alguns séculos, muitas cabeças roladas, e varias fogueiras de gente pra todo esse processo se acalmar. O fim dessa história (se é que realmente já terminou) pode ser visto como a própria revolução francesa, com a declaração da igualdade entre todos os homens e a supremacia da burguesia européia, a qual herdou de certa forma os privilégios e os poderes do clero. Outra conseqüência foi a compensação da perda do poder religioso da Igreja Católica Apostólica Romana pelo ganho de um poder político que trouxe para o mundo secular a Sacralidade do Cristianismo, o que pode ser vislumbrado na existência do Vaticano, Estado Soberano que possibilita à Igreja Católica ter seu sumo pontífice entrando e saindo de palácios de governos mundo a fora sem que a separação Igreja-Estado seja jamais contestada. Contudo, não se busca aqui uma análise do desenrolar do fim da idade média e da época do iluminismo. O que se tem por objetivo é mostrar como o poder de decifrar o mundo e explicar a natureza e as verdades é um ponto central na nossa vida, hoje e em todas as épocas da humanidade. Basta vermos o poder que hoje se encontra nas mãos da ciência moderna, com suas corporações farmacêuticas multibilionárias, à serviço do capital internacional, com lucros maiores que o PIB de muitos países.

Mas essa luta ainda não acabou. Ainda vemos hoje em dia uma luta pra saber que tem a palavra final sobre essa verdade humana. Um exemplo é a luta da mesma Igreja Católica contra os métodos de contracepção e a eutanásia. A própria resposta à pergunta “onde começa a vida” está em jogo. Ainda não se sabe qual será a resposta verdadeiramente verdadeira.



[1] Uma explicação mais detalhada sobre o funcionamento das religiões pode ser encontrado em “O Sagrado e o Profano” de Mircea Eliade.