Compartilhamentos...
Se você aceita um conselho, te diria para andar sem pressa. Diria para olhar a paisagem, que não reclama de ser vista, quase nunca sendo enxergada;
Se você aceita um conselho, diria para pensar nos amigos, nessas pessoas que por alguma conexão cósmica caminham ao teu lado, ainda que por pouco tempo, nessa estrada que chamam de vida;
Se você aceita um conselho, peça aos que gosta para perceberem como ficar ao lado de certas pessoas, sem falar nada, é muitas vezes a maior comunicação que nesta vida podem ter;
Se você aceita um conselho, avise a todos que há um mundo dentro de cada cabeça, que quando apreciada pelo próprio dono, se torna o maior parque de diversões do universo;
Mas não sei se conselhos são válidos. Não sei se você quer fazer tudo à minha maneira, o que faz destes conselhos, uma intromissão violenta;
Mas não deixo de falar
Pois se você aceita conselhos, desejaria a todos que desejassem pouco, nada além de um trabalho onde coisas se realizassem, onde pudéssemos chacoalhar mentes, pois disto o mundo precisa e sempre precisará;
E nestes conselhos, eu diria para que você desejasse saúde, afinal, ainda que efêmera, é uma causa dessa beleza inerente aos que amam a existência;
e diria pra que você quisesse ao teu lado uma mulher, de quem tenha orgulho todos os dias, seja pela beleza, seja pela inteligência, e que a olhe todas as manhãs e repita pra si: “ela me escolheu...”. Deseje alguém de cuja vida tenha vontade de ser testemunha;
E ainda que você me pedisse pra parar, se você quisesse um conselho, eu te diria pra buscar alguém com quem pudesses ficar horas conversando e imaginando a melhor forma de educar os filhos, qual papinha comprar, e até se o rebento poderia ler “O Soldadinho de chumbo” pela violência implícita;
E eu te imploraria pra que você ouvisse meus conselhos, pra que desejasse não muito dinheiro, apenas o suficiente para teu conforto, para que pudesse ver o mundo e ser testemunha desta maravilha chamada Terra, mas que não se perdesse na ridícula tentação da ostentação vazia;
E eu te diria, pra que você usasse sua renda para, ao lado de tua companhia, comer comidas que ainda não comeram, beber bebidas que não beberam, e que juntos pudessem dividir os sabores do mundo;
e em meus conselhos, falaria pra que você tivesse ao teu lado alguém que gostasse de dançar, de dançar junto, de dupla, e de dançar todos os ritmos de todas as músicas,
e te diria pra que ouvisse samba, mas não se esquecesse de Frank Sinatra
Eu te diria que tivesse um filho, pra que você possa ver o mistério da existência brotando em sua frente, e te tirando de seu próprio pedestal, pra que assim, você visse a mágica da vida se abrindo para o mundo, na mais incrível explicação da palavra encantamento;
E eu te avisaria que, de tudo aquilo que se pode buscar na vida, a mais nobre é a eterna luta pela lucidez, que lhe permite discernir o que traz dor ou alegria às pessoas, e então poder escolher teu caminho;
Eu pediria pra que se você pedir dinheiro, peça a riqueza na alma dos seus amigos, de sua mulher, de seus filhos;
Não queira muito. Jamais queira além da conta. Felicidade pode ser este equilíbrio que faz com que tudo esteja por perto, mas que nada jamais perca o sentido.
5 Comments:
O medo - Carlos Drummond de Andrade
Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.
E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.
Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.
Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.
Fazia frio em São Paulo…
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.
Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.
Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?
Vem, harmonia do medo,
vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas. Muletas
do homem só. Ajudai-nos,
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.
Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.
E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa cauta subida.
O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema; outras vidas.
Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.
Adeus: vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes…
Fiéis herdeiros do medo,
eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.
... mas não é quando o sentido se perde que a gente passa a questioná-lo? A perda do dele não deveria ser necessariamente ruim...
Não digo que devemos questionar nem julgar ninguém, mas devemos questionar sempre qual sentido determinada pessoa ou fato tem para nós... e a perda dele nos obriga a isso.
Acredito que, em relação às pessoas, devemos simplesmente aceitar, e aprender a olhá-la com todas as suas qualidades e falhas, com todas as suas neuroses, atitudes e comportamentos, e indagar que sentido isso faz para nós...
(... e se nada fizer sentido, melhor ainda! Olha quantas coisas podemos aprender sobre nós mesmos quando ele se perde...)
Quanto ao post, adorei... vc deveria escrever mais vezes textos assim.
"A suprema felicidade da vida é a convicção de ser amado por aquilo que você é... Ou melhor, APESAR daquilo que você é." (Victor Hugo)
obrigada pelo conselho.
beijos querido!
ADOREI!!! Mande noticias :)
Bjo, Silvia (Escola de Governo)
sensacional tg zvd glhrm.
não acredito que este texto está aqui desde 22 de janeiro e só hj tive a curiosidade de lê-lo.
muito bom mesmo.
dai o hipocondriaco disse: 'se conselho fosse bom, venderia em farmacia'.
mal sabe ele do que o ser humano é capaz.
é noise!
abrassoss
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