sexta-feira, dezembro 02, 2005

Confissões secretas da Iminência parda....

Atravancado no trânsito de Sao Paulo na tarde de ontem, sob um sol de 30 graus tive o prazer e todo o tempo do mundo para ouvir do começo ao fim a entrevista coletiva convocada pelo agora ex-deputado José Dirceu. É interessante notar como algumas pessoas tem o dom de, mesmo quando odiadas, conquistar a simpatia daqueles que odeiam. Assim nosso ex-primeiro ministro conduziu toda a entrevista, pedindo desculpas por sua relação eternamente conturbada com a imprensa e sendo simpático até com repórteres de veículos de comunicação notoriamentes combativos ao governo (Si hay gobierno, ellos son contra...). Quem esperava rancor, encontrou uma quase diabólica resignação bem humorada, digna daqueles que escondem o zap na manga ou, no mínimo, dos que não confirmam o que sabem, mas querem que isso seja notado.
Passada a degola (porque, ainda que merecida, tudo não passou de uma degola política mesmo..) e estando o senhor Dirceu já fora do tabuleiro - ao menos do tabuleiro visível - torna-se interessante uma observação um pouco mais acurada às suas falas e discursos, bem como de sua reconhecida inaptidão para a arte gramatical e luzófona em geral, o que, aliás, é uma constante no governo do presidente Lula. Primeiramente é de se notar o fato de José Dirceu ter um grave problema com o "problema". Quem alguma vez teve a sorte de ver Dirceu pronunciar corretamente a palavra "problema" pode desistir de ganhar na loteria até a próxima encarnação!!!
Jocosidades à parte, duas passagens presentes na fala de José Dirceu lançam uma suave luz sobre todas as incertezas e dúvidas acerca do que se passou na mente desses que assumiram formalmente poder em janeiro de 2003. À certa altura da entrevista Dirceu foi inquirido por um repórter sobre a visão aparentemente maquiavélica que o PT e seu alto escalão teriam do ato de governar, numa alusão à idéia de que os fins justificariam os meios. Dirceu negou veementemente. Entretanto minutos depois fez a infeliz comparação entre a Igreja Católica e o PT (dizendo que se até a Igreja Católica errou na inquisição, por que não poderia o PT errar também????). É evidente que o raciocínio de Dirceu tem lógica. Niguém nega a inteligência presente naquela cabeça. Mas a comparação de um partido político à uma instituição religiosa contradiz fundamentalmente a primeira afirmação de José Dirceu. Se o governo via na missão do PT algo comparável a uma missão religiosa, tudo seria possível e aceitável. A missão lhes teria sido concedida.
Uma outra passagem curiosa da entrevista foi a negação de Dirceu à impressão que todos tinham de que ele recorria ao Supremo Tribunal Federal com interesses somente protelatórios. Na hora de argumentar sobre a necessidade de tantos recursos, Dirceu afirmou que apenas defendia seus interesses e seus direitos individuais. Mas deixou escapar: "direitos individuais burgueses, mas direitos individuais". Vejam só!!!!!!
Quando somamos a visão messiânica de si mesmo com a rotulação de seus direitos individuais de "burgueses, mas direitos" é que começamos a ter noção da cabeça de nosso ex-deputado e ex-ministro. Junte-se à isso uma defesa incansável da política econômica do ministro Palocci. Não sou economista, mas que um crítico da filosofia e da ética ocidental burguesas defenda essa política, confunde até o Papa (que talvez, para Dirceu, seja filiado do PT).
Juntando tudo, temos: Um homem que confunde partido político com religião (e não é o Edir Macedo nem o José Alencar). Que rotula seus próprios direitos de "burgueses" evidenciando a fragilidade mesmo de nosso Estado quando em mãos erradas. Um pseudo-Marxista que defende o Mercado...Esse é o senhor José Dirceu.....aquele que queria ser Rasputin.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Confesso que tanto a entrevista coletiva como o discurso anterior à sua cassação causaram-me um sentimento estranho. Além da comparação (medíocre) à Igreja Católica, da afirmação de que defendia seus interesses individuais e burgueses, ouvimos ainda que os recursos impetrados não objetivaram apenas a defesa de seus interesses individuais, mas também em defender os direitos individuais inscritos na Constituição, ou seja, seu objetivo era de honrar a Magna Carta deste país, a qual ele jurou defender com afinco. Ora, juntando as duas últimas afirmações, chegamos à conclusão de que nosso ex-deputado acredita que nossa Constituição defende interesses burgueses. Concordo que até existem interesses burgueses inseridos em nossa Magna Carta, porém há também variadas formas de interpretação de um texto, pode ser ela sábia e plausível ou ignorante e radical. Mas é, de certa forma “assustador” tais palavras serem proferidas pela boca do membro de um partido que se diz (ou dizia, sabe-se lá) representante do povo que não é burguês. Isto causa dor aos ouvidos...A única sensação agradável disso tudo é, pelo menos, sabermos que não somos surdos...

10:14 PM  
Anonymous Anônimo said...

Pára tudo!!! O Zé e todos que com ele compartilharam desse "joguete" não sabem mais o que falam, caem nas armadilhas de suas próprias palavras. Nada a dizer!!! Simpatia??? Sempre botei fé nesse cara, acreditei que seus ideais eram sérios, mas acho que "imaginei" ( o Imagine do Lennon, lembra???) demais. STF? Constituição Federal?? Quando foi que algum deles deixou de ser político e usou da mais lídima Justiça?? Salvo suas exceções (porque não podemos generalizar)hehehehehhehh!!!! Esse "poblema" é lastimável...

3:31 AM  
Anonymous Anônimo said...

"(...) aquele que queria ser Rasputin" foi genial.

3:00 AM  

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