O bárbaro Denys Arcand...
Tive contato pela primeira vez com a obra de Arcand relativamente por acaso. Lia a revista Veja quando vi o título de um de seus filmes, "Declínio do Império Americano". Como bom pseudo-anarquista-antiamericanista fui sugado por aquela matéria, mais pelo nome do filme do que por seu conteúdo (até então desconhecido para mim). Passei a procurar o filme de locadora em locadora mas não foi fácil encontrá-lo. Havia somente uma cópia em uma locadora (eu procurei em pelo menos 6)e como o filme é de 1986 esta já estava em péssimo estado de conservação. Mas assisti assim mesmo. Foi fantástico. Tive uma soma de sensações que iam desde fascinação pela linguagem e modo de filmagem (extremamente sutil), até um medo quase paranóico de minha ignorância. A construção dos personagens deliciosamente caricatos é fenomenal (algo raro, não acham?). Passei a indicar o filme sem maiores pretensões. Foi quando no Natal de 2003, no quarto do hotel em São Paulo, passei os olhos pelo guia de cinema que acompanhava a Folha de São Paulo daquela semana. Li a sinopse e vi que tratava-se de uma continuação daquele filme que eu vira pouco tempo antes. Corri para o Espaço Unibanco da rua Augusta.
Se um cético pudesse usar a palavra "magia" sem medo, aquela teria sido a ocasião perfeita. A lucidez é esbanjada sem arrogância ou prepotência. Em resumo (o que deveria ser proibido para filmes como esse), o filme conta a história de Remy (agora 18 anos mais velho que no primeiro filme) que se vê com um câncer em rápido crescimento. Então, seus amigos do primeiro filme vão até Montreal encontrá-lo. O que se segue é talvez o mais lúcido e emocionante espetáculo de humanidade desde "Cinema Paradiso" (cada um à sua maneira). Personagens fantástico se cruzam em cenas cheias de recados que nos fazem perceber que nossa sociedade vive sim uma profunda crise de identidade, mas que no final das contas somos realmente humanos e racionais, ainda quando tomados pela emoção. Uma verdadeira ode à humanidade. Confesso que saí do cinema com o olho inchado e bastante desnorteado (hã? Rua Augusta?! Onde?), mas como seria bom que todos os "desnorteios" fossem como aquele. O filme nos enche de esperança ao mesmo tempo que levanta profundas questões sociológicas sobre o comportamento da sociedade moderna e seus dogmas. Prestem atenção ao diálogo do filho do Rémy com o policial dentro do carro, é emocionante.
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