sábado, dezembro 25, 2004

Lembrem-se do Warhol...

Lembram do Andy Warhol? Se não, vocês devem ao menos se lembrar daquela imagem da Marilyn Monroe repetida varias vezes em um único quadro e com cores diferentes em cada frame…Pois é, trata-se de uma obra deste célebre artista que também imortalizou, entre outras coisas, a imagem da lata de sopa Campbell’s. Em que pese a existência de vários críticos do movimento da chamada Pop Art, é sabido que Warhol, este americano de Pittsburgh e seus contemporâneos – Liechtenstein, Wesselmann, entre outros – revolucionaram o mundo artístico da segunda metade do século XX, chocando e maravilhando um público quase sempre despreparado para o que via. Atentemo-nos, entretanto, à obra de Warhol principalmente.
Olhando alguma de suas obras com um olhar algo pueril, talvez não nos demos conta do subtexto contido em cada uma delas. Ao transformar uma conserva (afinal, a lata de sopa era, em principio, somente isso) em ícone da arte da segunda metade de um século, além de impulsionar as vendas da marca em direção a ionosfera, Warhol com uma deliciosa ironia questionava um fenômeno que já se fazia perceptível nos idos de 1950: a massificação de nossas subjetividades. É claro que enumerar as questões trazidas a tona por uma obra de arte é uma atitude no mínimo desprovida de sensibilidade e não e isso que queremos aqui. Uma obra de arte não faz perguntas. Faz sim com que nós as façamos. O artista – e foi esse o grande mérito de Warhol – nos induz ao questionamento. Assim foi e assim deve ser.
Portanto ao vermos personalidades de um determinado momento histórico transformadas em obras de arte nos deparamos com um paradoxo próprio de nosso tempo qual seja a perda do significado intrínseco daquilo que se torna consumível, independentemente da história própria do objeto, imagem, etc.... Ao mesmo tempo, vemos o fantástico poder fagocitante do sistema capitalista, capaz de ignorar toda a mensagem trazida por um ícone de outra filosofia ou ideal, simplesmente inserindo-o no sistema e elevando-o ao status de ícone pop. Assistimos atualmente à Che Guevara vendido em pôsteres para adolescentes rebeldes, Hare Krishnas comendo no Mcdonald’s, bandeiras da antiga União Soviética vendidas em lojas de artigos vintage, Sun Tzu em aulas de administração de empresas, tudo isso em uma aparente ode a descontextualização e ao reaproveitamento cultural. Tudo perde seu significado original, sua identidade, e suas referências, perdendo conseqüentemente sua razão de existir, a não ser que exista inofensivamente. É isso que Andy Warhol tenta mostrar quando coloca nosso cotidiano em posição de arte. Nossa percepção da arte deve ser necessariamente subjetiva. A arte não pode ser obvia, ao menos que seja ironicamente obvia, numa pretensa obviedade que tem como único objetivo nos impulsionar ao desconforto e ao hediondo. Tudo tem uma história, um contexto e um ideal.
A capacidade dos meios de comunicação em massa de criar ou destruir mestres com legiões de fieis seguidores é também alvo da ironia de Warhol. Nosso bom senso diz que algo a ser idolatrado é algo que concentra em si todas as virtudes que um grupo de pessoas enxerga como virtudes. E para enxergá-las é preciso um processo paulatino de avaliação, assim como um pintor que diariamente pinta pouco a pouco seu quadro, avaliando-o e medindo sua próxima pincelada. Ídolos não são tão disponíveis quanto latas de sopa!!!
Entretanto, seria isso necessariamente algo mal? Ou teríamos encontrado definitivamente o sistema capaz de colocar todas as idéias dentro de um mesmo barco sem necessariamente fazer com que todas batam de frente (economizando assim muitas e muitas vidas). Só o tempo (ou um próximo ensaio) nos dirá se a perda da identidade não é necessariamente a única e ultima saída para a humanidade...como viu Warhol.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Adorei.....Linchenstein e Warhol são os melhores para mim...pop art também....
Ja ouviu falar de Takashi Murakami?muito bom tbem...
Você escreve muito bem....

2:14 PM  

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