quarta-feira, outubro 19, 2005

Agradecimento ao acaso.

Escrever é, antes de tudo, um ato de coragem. Ou de uma possível ousadia. Não sei ao certo a diferença entre esses dois adjetivos. A ousadia me parece mais indicada posto que a coragem acaba por soar carregada de uma presunção exagerada. Digo isto porque passei cerca de 3 meses distante deste lugar (como é estranho chamar de lugar algo virtual!!!) e se me perguntasse o motivo dessa ausência, talvez não pudesse responder. Não sei se estava calado por não ter o que dizer, ou por um medo, um receio da possível inutilidade de minhas palavras. Vejam só. Estou calando pelo medo da inutilidade de minhas palavras. Uma covardia que muitos insistem em chamar de pragmatismo.
Creio ter recebido pela primeira vez em meus escritos (tão raros ultimamente) um comentário de um(a) desconhecido(a). Tentei acessar a página de minha testemunha (prefiro chamar os leitores de testemunhas) mas apareceu a já infame mensagem de erro da Internet...Contudo percebi que voltei a escrever hoje em conseqüência desse contato inesperado com alguém que nem ao menos sei se é real. É de uma estranheza mais que bizarra a solidão causada pela sensação de que não nos comunicamos, todos nós. Ao mesmo tempo a reciprocidade afaga a alma. Impulsiona. Alimenta. Obrigado desconhecido(a) por não ter cedido ao seu pragmatismo e por ter deixado uma mensagem, uma manifestação!!! Este texto é em sua homenagem.
Lembro-me de meu primeiro texto postado na Internet. Já faz mais de um ano. Quando percebi a possibilidade de me comunicar com o mundo sem precisar invadir uma estação de TV fui acometido por um entusiasmo sem precedentes em minha, até então, breve existência. Sentei-me ao computador de madrugada (como sempre) e deixei a alma fluir. Como fosse uma primeira sessão de análise onde não se conhece o terapeuta disse pouco, receoso de minha já sabida inconsistência. Vê-se hoje um texto cheio de esperanças na busca, não por uma audiência, mas por um interlocutor, ainda que proveniente do acaso, encontrado graças a uma eventual sincronicidade metafísica inescapável. Mas já retirei o texto do blog. Não adianta procurar.
Percebo, também, que quando começo a escrever um texto não sei como o mesmo vai terminar. Nem mesmo se vai terminar, se vai ter um fim. Acho que comecei esse aqui para agradecer a minha primeira testemunha. Depois de meses de desinteresse pela minha própria opinião volto a falar porque alguém me ouviu. E não só isso. Disse a mim que me ouviu. Isso foi o mais importante. Afinal, o mundo em que vivemos, o mundo do homo Laborans, regido pelo tempo e pelo pragmatismo, pelo remédio imediato, pela objetividade absoluta, castradora da criatividade, esse mundo nos possibilita a todos a visão completa do mundo, o tempo todo, 24 horas por dia, 7 dias por semana, mas a nossa pressa impede que nos apresentemos aos nossos interlocutores. Não dizemos: “Ei!! Eu tô te ouvindo!!!!” Não devolvemos uma interpretação da informação ao emissor. Estamos matando os diálogos e vivendo em um grande monólogo coletivo.
Por isso resolvi escrever esse agradecimento em forma de texto. E também para tentar dizer que de nada adiantará recebermos todas as informações do mundo em nossas casas, dentro de nossos computadores se não as sentirmos, numa troca íntima de opiniões. Não deixemos a verdade existir sem que possamos palpitar um pouco nela.
Até breve.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

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4:39 AM  
Blogger Luisa C. said...

Hum...

achei seu blog por acaso e li os textos anteriores... adorei!

Já éstava decidida a comentar neste seu último post quando li a real intenção dele. "Será que eu vou parecer paga pau comentando bem neste post?"
Que seja. Comentei porque sempre faço isso nos blogs alheios para as pessoas saberem que leio o que escrevem. Coisa que não fazem no meu.
Então é isso!
Prazer, conquistou mais uma leitora =)
Sempre que puder vou passar por aqui e espero poder conferir um texto seu!

3:01 AM  
Blogger Cora said...

Do texto: Agradecimento ao acaso.

“Ei!! Eu tô te ouvindo!!!!”

Foi bom fazer o caminho inverso, autor - obra. Aós incontrolável curiosidade de ler seu blog,meus olhos bateram justamente nesse "comentário"; bem nesse, " agradecimento ao acaso", uma vez que busco o sentido da palavra acaso ultimamente.

Penso que escrever é achar a mediocridade nas palavras, faz parte de uma ingênua pretensão e aspiração à metaformose que chove das palavras.
Não quero elogiá-lo aqui para não deixar a crença Pirgas postada, porém, não posso passar despercebida frente à inteligente eloquência e tampuco poeticidade que jaz aqui.
Jaz, porque aqui, no mundo dos macacos, a palavra não se propaga no vácuo. É a metafísica latente nos meandros dos textos, que atinge um só, um único leitor.

7:55 PM  

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